Moraes, um herói da resistência

A foto que acompanha este texto foi tirada em 2002, segundo informa o Dedoc, o centro de documentação da Editora Abril.

Mas poderia ter sido clicada na tarde do sábado passado, antes da chuva, quando almocei no Moraes, o “Rei do Filet”.

Mais antigo restaurante paulistano especializado em carnes, o endereço foi inaugurado em 1929 na Praça Júlio Mesquita, no centro, e mantém hoje uma filial na Alameda Santos. Sua pré-história dá conta que descende de um certo Esplanadinha, originalmente aberto na Rua Conselheiro Crispiniano, em 1914.

Estive na casa da região central. A primeira impressão que se tem ao chegar a um endereço histórico da gastronomia paulistana como esse e ver o salão quase vazio é uma confusão: um pouco de desolação, outro tanto de surpresa e também um certo alívio por perceber sua capacidade de resistir ao tempo. Afinal de contas, a vizinhança já foi das melhores –  a cracolânida começa na rua de trás, o movimento ali naquele trecho da Avenida São João já não conta com o Mappim, os cinemas…

Em algum momento da visita, antes ou depois de digladiar-se com aquele filé-mignon altíssimo, de 430 gramas de carne selada e vermelhíssima por dentro, vale a pena correr os olhos pelos pôsteres com recortes de jornal e revista espalhados pelas paredes.

Descobre-se nesse breve passeio um punhado de críticas gastronômicas – feitas por nomes como o do saudoso Saul Galvão, com quem trabalhei no Jornal Tarde, e Paulo Cotrim – e reportagens dos anos 70 aos 90 contando um pouco da gloriosa história do bar, cujo fim de noite já foi um dos melhores da cidade.

Achei curioso, em especial, um texto da Vejinha, de janeiro de 1986, que informa sobre a reabertura do Moraes, que havia ficado 22 dias fechado por causa da falta de carne (uma cópia da reportagem pode ser vista no site http://www.filetdomoraes.com.br). Na ocasião, o restaurante passava a servir o filé já com os acompanhamentos e por isso cobrava mais caro pelo prato. “Foi o único jeito de poder mexer nos preços e aguentar o ágio da carne”, explicava o proprietário. Eram tempos de Plano Cruzado, Sarney etc.

De volta a este 14 de dezembro de 2010, à mesa a combinação de filé-mignon com brócolis, batata frita à portuguesa, arroz e cerveja é um afago a um estômago que cede facilmente à nostalgia desses clássicos. Os mais sensíveis podem optar pelo “filet 2000”, com 130 gramas de carne, ou pelo mini-filet, de 230 gramas.

Para terminar, deve-se pedir ao garçom um pudim de leite feito ali mesmo. Para começo de conversa não se deve recusar, de jeito nenhum, os dois croquetinhos de filé-mignon que compõem o couvert.

Dá vontade de repetir a dose uma, duas, três vezes. Mas aí você se lembra que tem de reservar espaço para o filé.

Moraes. Praça Júlio Mesquita, 175, Centro, Tel. 3221-8066, http://www.filetdomoraes.com.br.

6 thoughts on “Moraes, um herói da resistência

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  2. Que agradável surpresa ler, hoje em dia, uma notícia sobre o velho cansado de guerra MORAES. Tenho 77 anos e quando lá ia, aos 30, quando de passagem pela cidade, havia apenas uma pedida: filé com agrião, podendo ser com alho ou sem. Hoje tem até croquete? Então não é mais o MORAES… Mas ouvir falar dele, ainda hoje, foi uma agradável surpresa, pela qual lhe sou grato, embora lá não mais voltasse, para não macular a imagem indelevel do passado. Tem boas coisas que não se deve tentar repetir, por únicas…

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    • Prezado Franz,

      Permita-me sugerir que vá, sim, ao Moraes, para rever a casa e conhecer o tal croquete.
      E fique à vontade para compartilhar com os leitores deste blog as suas impressões.

      Obrigado e volte sempre ao blog.

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