Já nos anos 60, muitos casais escolhiam o aconchego do salão que lembra um chalé alpino para namorar. A cidade era mais fria, é bem verdade, e com um pouco de imaginação, havia quem se sentisse na montanha, mesmo estando recolhido ao ambiente do Windhuk, instalado no bairro de Moema e de suas ruas planas.
Fui apresentado ao Windhuk por um grande amigo, Cacalo Kfouri, o ‘seu Luis’, ele próprio um desses fregueses que ali namoraram, noivaram e celebraram momentos como a conquista de um título pelo time do coração ou o nascimento de um filho.
Sempre que se refere ao Windhuk, Cacalo fala com uma emoção incontida. Há muito tempo é amigo do Valfrido Krieger, dono do restaurante e irmão do Reimar, falecido e que foi dono do também falecido Choppinho’s, uma casa que funcionou próxima ao Windhuk.
O chope servido no Choppinho’s, lembro bem, era de uma cremosidade marcante. Não exagero ao dizer que estou salivando só de lembrar daquelas tulipas geladinhas chegando à mesa.
Pois no Windhuk, o mais antigo restaurante de cozinha alemã em atividade em São Paulo e ao qual eu não voltava havia uns cinco anos, bebe-se um chope espetacular, que muito me fez lembrar o do Choppinho’s. Vem na tulipa rabo de peixe, de vidro fino, com pezinho. O balanço da espuma consistente e espessa, pude reparar na semana passada enquanto o garçom chegava até mim com o copo, lembra o de uma onda em câmara lenta. Bebida fresca, tratada com carinho por quem sabe. Recomendo, ainda mais acompanhado de uma porção de canapés hackepetter (pão de centeio com carne crua salgada e temperada com cebola picada).
Por falar nas ondas do mar, o nome do restaurante é uma homenagem ao navio de bandeira alemã que partiu de Hamburgo em 1936 e que foi proibido de deixar a costa do Brasil durante a Segunda Guerra. Um dos tripulantes da embarcação, que aqui passou a viver, abriu o Windhuk em 1948. Depois de ter alguns donos diferentes, em 1965 o restaurante foi comprado por Krieger.
E por falar em Hamburgo e em guerra, acabo de me lembrar do chope Astra que tomei no Haifisch Bar (Bar do Tubarão, na foto), em julho passado. Esse autêntico kneipe (boteco) mantém sua pesada porta de madeira sempre aberta, há muitas décadas, diante do mercado de peixe instalado no fabuloso porto de Hamburgo – sim, ao contrário do que vemos aqui no Brasil, por lá a região portuária é uma zona de muitos atrativos turístiscos. Durante a guerra, o local era um bunker às avessas, um ponto de encontro de gente que não estava nem aí para o führer. Gente simples, que passava noite bebendo, cantando as poucas alegrias (se é que tinha alguma). Enquanto tomava meu chopinho no Windhuk, posso jurar que havia alguma conexão espiritual com aquele kneipe. Saúde, Cacalo!
Windhuk. Alameda dos Arapanés, 1400, Moema, tel. (11) 5044-2040.
Salve Miguel! O navio alemão Windhuk nos legou outra alegria: o sogro da Darci, cozinheiro da embarcação, nunca mais deixou o Brasil e inaugurou o Heinz qdo finalmente lhe foi permido desembarcar. Zum Woh Windhuk!
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Salve Degas!Mas que maravilha esta história! Obrigado por compartilhá-la com o blog. Volte sempre!
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Um viva a cerveja e a alegria típica Alemã!!! Alles Gutten!
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