Debaixo daquele Coqueiro

Coqueiro Drinks / Foto: Miguel Icassatti

Que botecos, pubs, bares (e quaisquer espeluncas que vendam produtos líquidos com teor alcoólico compreendido entre 4 e 54 graus) exercem um poder de atração irresistível sobre nós, jornalistas, até Johannes Gutenberg  já sabia. Eu não duvidaria, por exemplo, se algum biógrafo do pai da imprensa viesse a garantir que o alemão, ali pelos idos de 1450 e ao fim de cada uma das 1800 noites dedicadas à impressão de sua Bíblia, estivesse acostumado a entornar algumas canecas de weizenbier numa taberna vizinha à sua oficina.

Daquela época aos dias de hoje e da Mainz onde Gutenberg viveu ao bairro paulistano do Limão, onde quer que haja uma redação de jornal, site ou de revista sempre existirá no seu entorno, para uma saideira pós-pescoção ou pós-fechamento, um pé-sujo à disposição de focas, fechadores, repórteres, designers, infografistas, pauteiros e editores.

O mais célebre desses bares, certamente, é o Estadão Bar e Lanches, que não por acaso presta homenagem no nome ao jornal O Estado de S. Paulo. Até se mudar para o Limão nos anos 70, o Estadão (o jornal) ocupou o prédio em frente do bar, anexo ao Jaraguá (atual Novotel Jaraguá), que já foi o hotel mais chique de São Paulo, aliás. As mesmas instalações acomodaram nas décadas seguintes o Diário Popular e o Diário de S. Paulo, que saiu dali há pouco para algum lugar na Via Anhanguera -pobre da turma do ‘Dispo’…

As gerações de jornalitas do grupo Estado que migraram para o Limão, em especial as do Jornal da Tarde, vêm recorrendo nas horas difíceis ao bar do Johnny, que fica a poucos passos de uma das portarias do jornal, na Avenida Celestino Burrol. Estive lá recentemente e pude ver que o bar está mais arrumadinho do que em meados da década passada, quando trabalhei no JT e no próprio EStadão (de 2004 a 2007). O salão, mais bem cuidado do que na sua encarnação anterior, na versão Pilão, de uns tempos para cá vem recebendo festinhas animadas e noitadas musicads pela banda do Carlinhos Miller, grande ilustrador e caricaturista. Muito menos glamuroso, convenhamos, é o Folhão, nome de guerra do pé-sujo que fica em frente à Folha de S. Paulo, na Rua Barão de Limeira, região dos Campos Elíseos. Apesar da feiúra, suas vantagens competitivas são a cerveja barata e a pizza assada na hora, em especial a portuguesa, que uma ex-repórter da Folha On Line (e posteriormente da Folha) costumava pedir durante os pescoções de sexta-feira.

Meus amigos do iG, por sua vez, adotaram o Arpège, na Rua Pedroso Alvarenga, um bar que nem é tão mal diagramado assim.

E eis que de uns tempos para cá, capitaneadas pela equipe da Placar, diferentes redações – e outras áreas também – da Abril vêm adotando o Coqueiro Drink’s como ponto de encontro. Instalado na esquina das ruas Gilberto Sabino e Conselheiro Pereira Pinto, bem atrás do NEA, o prédio da empresa, o Coqueiro ganhou uma sucursal, digo, filial na rua de cima. Mas a bem da verdade, o Coqueiro II não vem tendo o mesmo ibope entre os abrilianos.

Geralmente às quintas e sextas, 6 da tarde em diante, o Coqueiro começa a pegar. A equipe da Dinap (de mudança para outro prédio) está entre as primeiros a chegar e a dominar um pedaço da calçada, seguida pelas meninas do Núcleo de Projetos Especiais das marcas femininas. Dali a pouco, quando a noite cai e a iluminação esverdeada da casa passa a ganhar destaque, juntam-se figurões da PLAYBOY, gente do marketing da VEJA, as turmas da ALFA, SUPER, Guia Quatro Rodas, MEN’S HEALTH…

Drinques? Não, nada disso, esses jornalistas preferem mesmo é beber cerveja. Ivanildo, o garçom-maravilha, diz que numa sexta-feira gorda chegam a ser vendidas 500 garrafas de Serramalte, Original, Heineken e Brahma, entre outras. Para quem chega com fome, a cozinha e a chapa soltam clássicos decentes como o churrasco com queijo (R$ 8,00), o x-salada (cujo hambúrguer de patinho é feito ali mesmo, R$ 6,50), o x-carne assada (R$ 8,00) e a porção de contra-filé aperitivo acebolado (R$ 20,00).

Apesar daquele clima soltinho da freguesia, eu não diria que o Coqueiro é um bar de paquera. Tamanha tarimba, a de ser um point para reunir corações apaixonados e outros tantos partidos, convenhamos, o bar ganhará com o tempo. Mas o Coqueiro tem lá suas virtudes, não deixa a cerveja esquentar e fica próximo ao metrô. E está fadado a conviver com uma insolúvel questão: funcionário da Abril jamais poderá pagar a conta com o crachá.

Coqueiro Drink’s. Rua Gilberto Sabino esquina com Rua Conselheiro Pereira Pinto, Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 2337-1434.

8 thoughts on “Debaixo daquele Coqueiro

  1. poxa, Miguel, você só esqueceu de mencionar a equipe da Viagem e Turismo, que bate cartão por lá toda sexta, segunda, terça, quarta, quinta…. hehehehe, amei o texto! 😀

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  2. Sim, equipe Placar. Eu mesmo, que não sou mais de lá há anos, já chegava por aquelas bandas com a redação quando nem existiam ainda as janelas laterais… Duvida? Por que não dá uma passada na entrada da redação para ver a homenagem que o Coqueiro fez, com um tapete exclusivo?

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